2010/05/16

CONFERÊNCIA MIGUEL UNAMUNO_REP













































Falou-se de Miguel Unamuno. Falou-se de Espanha. Falou-se de Portugal. E, como pano de fundo, lá estava o mar. A aventura. O eterno desejo de ir mais além.
Não. Não passámos da Taprobana. Nem tivemos de dobrar o Bojador. Nem tão-pouco fomos aos confins do rio Mécon. Mas viajámos no tempo. Deixámo-nos transportar pelo vento das antigas procelas. Sentimos a brisa suave sob um sol luminoso e esacaldante.
Ali, a meia-distância entre o sonho e o pesadelo, entrevimos Antero de Quental, Oliveira Martins, Manuel Laranjeira, Almeida Garrett – e tantos outros rostos da literatura portuguesa.
A questão era – e foi – Portugal. E Espanha. E o mar. Salgado. Sulcado. Scarmentado.
Claro que por detrás de tudo isto estava o homem. Português. Espanhol. Claro que, por detrás do pano, estava o homem e o marinheiro, quer dizer, o homem e o escritor – o prosador, o historiador, o poeta, o pensador. Claro que, nos bastidores, estava o homem Universal.

Ó vastidão oceânica! Encontrávamos-nos todos acima do nível médio das águas revoltas de um mar aparentemente calmo quando o orador, o Prof. João da Costa Lopes, deu por concluída a sua exposição. A viagem tinha chegado ao fim. A embarcação atracara sem ter saído do porto de embarque. Mas não é fácil recolher as velas, quando elas sopram ao vento. Não é fácil abdicar da parte do sonho, sobretudo quando ele parece estar ao nosso alcance.
Desçamos ao plano do real. Tinha, com efeito, chegado ao fim a prelecção do orador. Mas, na sala, havia bocados de salitre à solta. Havia uma espécie de bruma indelével que nos envolvia. Havia um sentimento de que podíamos dar a volta ao mundo. E essa ideia, esse lance sublime, essa circum-navegação pairou, numa fracção de segundo, por cima das nossas cabeças. Encheu a sala. E invadiu o universo - o nosso.
Foi obra de um mestre. De um sibilino. De um comunicador nato. Que, mais do que dar receitas, soube provocar a fome. Doravante, caberá a cada um o ónus de a saciar…
Mais não seria de exigir mais, pois não?

















© Manuel Fontão

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