2011/12/09

categorias sintáticas

2. categorias sintáticas

Porém, dizer que as estruturas sintáticas resultam da combinação de palavras não deixa, obviamente, de ser uma simplificação, na medida em que acaba por não traduzir a principal característica das expressões sintáticas, a saber, a de serem combinações de categorias.

Assim, na frase (2), que retomo como exemplo (5), deve considerar-se que os sintagmas nominais [o poeta] e [estas provas] constituem exemplos de combinação de um artigo e de um nome e de um demonstrativo e de um nome, respetivamente. 

Além disso, refira-se que estas categorias são chamadas nucleares, pois que, associadas a palavras, determinam as propriedades combinatórias dos elementos do léxico (deste modo, podemos formar um constituinte combinando, por exemplo, um artigo e um nome, mas já não podemos combinar dois artigos ou dois demonstrativos e um verbo…).

(5) O poeta corrigiu estas provas durante três dias.

Ao substituir as palavras do exemplo (5) pelas respetivas categorias, obter-se-á a seguinte sequência de categorias:

Aliás, a partir desta tabela pode operar-se uma distinção entre as categorias sintagmáticas, as quais podem ser de dois tipos:
  • categorias lexicais (nome, verbo, adjetivo…) que, grosso modo, constituem a maior parte do léxico e formam uma lista aberta (i .e., variam ao longo do tempo, admitem a neologia, etc.);
  • categorias funcionais ou gramaticais (preposição, artigo, possessivo, demonstrativo, conjunção…) que expressam tão-só uma relação gramatical entre elementos, contêm uma interpretação (semântica) gramatical e constituem listas fechadas (quer dizer que é possível efetuar o seu inventário completo e possuem um índice de variação próxima de zero).

2.1. sintagmas ou grupos

Como ficou dito atrás, a expressão [o poeta] constitui uma sequência das categorias [artigo] + [nome] e, como tal, forma uma unidade sintática – um constituinte –, a qual deverá conter, pelo menos, uma categoria.

Ora, a estas categorias, que são diferentes das categorias nucleares (na medida em que estamos a falar de conjuntos de palavras), dá-se o nome de categorias sintagmáticas (que ocupam, no esqueleto, uma oposição superior às nucleares). Para melhor ilustrar o assunto, vejamos, pois, a representação arborescente [3] que se segue (6):

Significa isto, por conseguinte, que um sintagma constitui uma categoria complexa, contendo necessariamente um elemento, denominado núcleo – que determina a sua natureza categorial. Com efeito, no exemplo dado (6), o núcleo é ocupado por um [nome] e, por isso mesmo, o constituinte toma a designação de sintagma nominal (ou grupo nominal) [4].

Já os constituintes que têm como núcleo um verbo adquirem o nome de sintagmas (ou grupos) verbais, como se pode observar em (7):
Se o núcleo dos constituintes for um adjetivo, falar-se-á, neste caso, de sintagmas (ou grupos) adjetivais, como se verifica em (8):

 
Por outro lado, quando o núcleo é constituído por uma preposição, dir-se-á que o sintagma (ou grupo) é preposicional, conforme fica exemplificado em (9):
Enfim, se o núcleo é constituído por um advérbio, o sintagma designar-se-á sintagma (ou grupo) adverbial, como é o caso de (10):

Claro que se dá aqui a representação simplificada do sintagma preposicional que, inserido na totalidade da frase (F) surge encaixado (i.e. dominado hierarquicamente pelo SV), conforme se verá infra (12).

Significa isto que a estrutura da frase, essa, é bem mais complexa, como se pode observar pela representação arborescente que se segue (11) [5]:


cuja representação, como ficou dito supra (cf. nota 03) pode ser também obtida pelo jogo de parênteses retos (processo designado por parentetização etiquetada):
Daqui se conclui que a frase se define, do ponto de vista da sintaxe, como um conjunto mais ou menos variável de sintagmas (ou grupos).

Posto isto, completemos a análise apresentada em (10):

2.2. regras de construção da frase

Daqui se infere que os sintagmas constituem categorias sintáticas que combinam elementos de categorias distintas em torno de um elemento que funciona como o seu núcleo. Dito por outras palavras, as categorias nucleares combinam-se para formar sintagmas e estes, por seu turno, combinam-se entre si para formar uma frase, unidade máxima da gramática de frase.

Pode, portanto, considerar-se uma frase como um tipo especial de sintagma, que representa, no fundo, o limite superior de combinação sintática de categorias.

Assim, e tomando como exemplo o corpus apresentado em (2), regista-se o conjunto de palavras que se seguem:

(13) N: {poeta, provas, dias}; V {corrigiu}; Art {o}; Dem {estas}; Prep {durante}; Num{três}.

Etapa 1:
Começar-se-á por combinar as palavras, de acordo com a sua categoria, formando, por exemplo, constituintes nominais. É evidente que tais combinações atualizam as regras semânticas e as formais dicionarizadas (quer dizer, dadas pelo dicionário da língua), razão pela qual nem todos os conjuntos resultantes serão gramaticais. Veja-se:
a. o + poeta; 
b. *o + provas; 
c. *estas + dias; 
d. *poeta + o; 
e. *dias + três.

Etapa 2:
Em seguida, efetuar-se-ão novas combinações que darão origem a novos constituintes (f, g, h, i, j, k, l):

f. corrigiu + estas provas;
g. ? estas + provas + corrigiu;
h. *estas + corrigiu + provas;
i. *provas + corrigiu + estas;
j. *dias + três + durante;
k. durante + três + dias;
l. durante + corrigiu + três + dias.

Etapa 3:
Por fim, agrupar-se-ão as combinações disponíveis no corpus proposto (13), de que resultará a frase – nível superior das operações de combinação:

m. o + poeta + corrigiu + estas provas + durante + três + dias;
n. ? o + poeta + estas + provas + corrigiu + durante + três + dias;
o. *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas;
p. ?o + poeta + corrigiu + durante + três + dias;
q. *o + poeta + durante + três + dias;
r. o poeta + corrigiu + estas.


2.3. definição de frase

Do que acaba de ser exposto, e, em especial, da análise superveniente de (o), aqui se repete sob o item (s):

(s) *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas

deve necessariamente concluir-se que:

(14) uma frase mínima envolve sempre um e só um sintagma nominal e um sintagma verbal (claro que uma frase pode conter outros constituintes, para além destes – mas não em vez destes). Assim, ter-se-á uma representação do género:
-----------------------------------------
[3] Esta forma de representação esquemática foi amplamente divulgada pela Gramática Generativa Transformacional (GGT), embora seja igualmente recorrente, para a descrição da frase, recorrer à parentetização etiquetada, cuja prática remonta às célebres caixas do estruturalista americano Charles Hockett (1958).
[4] Chama-se à atenção que o facto de o sintagma nominal poder desempenhar funções sintáticas, designadamente, a de sujeito e a de complemento direto, coloca em evidência a pertinência da ordem canónica (SVO), em línguas como o Português. 
[5] De referir que cada categoria sintagmática (SN, SV, Sprep, etc. ) corresponde a um situado num nível [+ abstrato] da língua. De resto, cada nó é c-comandado relativamente a sua posição no esqueleto da frase sse [se e somente se]:
(i) A não domina B e B não domina A;
(ii) o primeiro nó ramificado que domina A, domina igualmente B.
[6] Seja dito de passagem que o esquema arborescente representa uma imagem invertida da frase, na medida em os constituintes últimos ou terminais representam elementos lexicais (determinantes, nomes, verbos, adjetivos, etc.) e os níveis superiores (os nós) se situam num nível puramente abstrato, isto é, sem correspondência direta com o léxico de uma determinada língua. Daí que o nível inferior (a sucessão de palavras) corresponda àquilo que ouvimos, i. e., ao seu registo sonoro (razão pela qual a Gramática Generativa fala de sintaxe visível), ao passo que todos os outros níveis (nós e ramificações) se situam num plano mental, abstrato e profundo da língua.
[7] O [pro] não é lexicalmente realizado, mas faz parte integrante da estrutura profunda da língua, pois que idiomas como o português são de sujeito nulo, em que a realização do argumento externo é facultativa [(S)VO]. 
© Manuel Fontão

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