2. categorias sintáticas
Porém, dizer que as estruturas sintáticas resultam da combinação de palavras não deixa, obviamente, de ser uma simplificação, na medida em que acaba por não traduzir a principal característica das expressões sintáticas, a saber, a de serem combinações de categorias.
Assim, na frase (2), que retomo como exemplo (5), deve considerar-se que os sintagmas nominais [o poeta] e [estas provas] constituem exemplos de combinação de um artigo e de um nome e de um demonstrativo e de um nome, respetivamente.
Além disso, refira-se que estas categorias são chamadas nucleares, pois que, associadas a palavras, determinam as propriedades combinatórias dos elementos do léxico (deste modo, podemos formar um constituinte combinando, por exemplo, um artigo e um nome, mas já não podemos combinar dois artigos ou dois demonstrativos e um verbo…).
(5) O poeta corrigiu estas provas durante três dias.
Ao substituir as palavras do exemplo (5) pelas respetivas categorias, obter-se-á a seguinte sequência de categorias:
Aliás, a partir desta tabela pode operar-se uma distinção entre as categorias sintagmáticas, as quais podem ser de dois tipos:
- categorias lexicais (nome, verbo, adjetivo…) que, grosso modo, constituem a maior parte do léxico e formam uma lista aberta (i .e., variam ao longo do tempo, admitem a neologia, etc.);
- categorias funcionais ou gramaticais (preposição, artigo, possessivo, demonstrativo, conjunção…) que expressam tão-só uma relação gramatical entre elementos, contêm uma interpretação (semântica) gramatical e constituem listas fechadas (quer dizer que é possível efetuar o seu inventário completo e possuem um índice de variação próxima de zero).
2.1. sintagmas ou grupos
Como ficou dito atrás, a expressão [o poeta] constitui uma sequência das categorias [artigo] + [nome] e, como tal, forma uma unidade sintática – um constituinte –, a qual deverá conter, pelo menos, uma categoria.
Ora, a estas categorias, que são diferentes das categorias nucleares (na medida em que estamos a falar de conjuntos de palavras), dá-se o nome de categorias sintagmáticas (que ocupam, no esqueleto, uma oposição superior às nucleares). Para melhor ilustrar o assunto, vejamos, pois, a representação arborescente [3] que se segue (6):
Significa isto, por conseguinte, que um sintagma constitui uma categoria complexa, contendo necessariamente um elemento, denominado núcleo – que determina a sua natureza categorial. Com efeito, no exemplo dado (6), o núcleo é ocupado por um [nome] e, por isso mesmo, o constituinte toma a designação de sintagma nominal (ou grupo nominal) [4].
Já os constituintes que têm como núcleo um verbo adquirem o nome de sintagmas (ou grupos) verbais, como se pode observar em (7):
Se o núcleo dos constituintes for um adjetivo, falar-se-á, neste caso, de sintagmas (ou grupos) adjetivais, como se verifica em (8):
Por outro lado, quando o núcleo é constituído por uma preposição, dir-se-á que o sintagma (ou grupo) é preposicional, conforme fica exemplificado em (9):
Enfim, se o núcleo é constituído por um advérbio, o sintagma designar-se-á sintagma (ou grupo) adverbial, como é o caso de (10):
Claro que se dá aqui a representação simplificada do sintagma preposicional que, inserido na totalidade da frase (F) surge encaixado (i.e. dominado hierarquicamente pelo SV), conforme se verá infra (12).
Significa isto que a estrutura da frase, essa, é bem mais complexa, como se pode observar pela representação arborescente que se segue (11) [5]:
cuja representação, como ficou dito supra (cf. nota 03) pode ser também obtida pelo jogo de parênteses retos (processo designado por parentetização etiquetada):
Daqui se conclui que a frase se define, do ponto de vista da sintaxe, como um conjunto mais ou menos variável de sintagmas (ou grupos).
Posto isto, completemos a análise apresentada em (10):
2.2. regras de construção da frase
Daqui se infere que os sintagmas constituem categorias sintáticas que combinam elementos de categorias distintas em torno de um elemento que funciona como o seu núcleo. Dito por outras palavras, as categorias nucleares combinam-se para formar sintagmas e estes, por seu turno, combinam-se entre si para formar uma frase, unidade máxima da gramática de frase.
Pode, portanto, considerar-se uma frase como um tipo especial de sintagma, que representa, no fundo, o limite superior de combinação sintática de categorias.
Assim, e tomando como exemplo o corpus apresentado em (2), regista-se o conjunto de palavras que se seguem:
(13) N: {poeta, provas, dias}; V {corrigiu}; Art {o}; Dem {estas}; Prep {durante}; Num{três}.
Etapa 1:
Começar-se-á por combinar as palavras, de acordo com a sua categoria, formando, por exemplo, constituintes nominais. É evidente que tais combinações atualizam as regras semânticas e as formais dicionarizadas (quer dizer, dadas pelo dicionário da língua), razão pela qual nem todos os conjuntos resultantes serão gramaticais. Veja-se:
a. o + poeta;
b. *o + provas;
c. *estas + dias;
d. *poeta + o;
e. *dias + três.
Etapa 2:
Em seguida, efetuar-se-ão novas combinações que darão origem a novos constituintes (f, g, h, i, j, k, l):
f. corrigiu + estas provas;
g. ? estas + provas + corrigiu;
h. *estas + corrigiu + provas;
i. *provas + corrigiu + estas;
j. *dias + três + durante;
k. durante + três + dias;
l. durante + corrigiu + três + dias.
Etapa 3:
Por fim, agrupar-se-ão as combinações disponíveis no corpus proposto (13), de que resultará a frase – nível superior das operações de combinação:
m. o + poeta + corrigiu + estas provas + durante + três + dias;
n. ? o + poeta + estas + provas + corrigiu + durante + três + dias;
o. *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas;
p. ?o + poeta + corrigiu + durante + três + dias;
q. *o + poeta + durante + três + dias; Etapa 2:
Em seguida, efetuar-se-ão novas combinações que darão origem a novos constituintes (f, g, h, i, j, k, l):
f. corrigiu + estas provas;
g. ? estas + provas + corrigiu;
h. *estas + corrigiu + provas;
i. *provas + corrigiu + estas;
j. *dias + três + durante;
k. durante + três + dias;
l. durante + corrigiu + três + dias.
Etapa 3:
Por fim, agrupar-se-ão as combinações disponíveis no corpus proposto (13), de que resultará a frase – nível superior das operações de combinação:
m. o + poeta + corrigiu + estas provas + durante + três + dias;
n. ? o + poeta + estas + provas + corrigiu + durante + três + dias;
o. *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas;
p. ?o + poeta + corrigiu + durante + três + dias;
r. o poeta + corrigiu + estas.
Do que acaba de ser exposto, e, em especial, da análise superveniente de (o), aqui se repete sob o item (s):
(s) *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas
deve necessariamente concluir-se que:
(14) uma frase mínima envolve sempre um e só um sintagma nominal e um sintagma verbal (claro que uma frase pode conter outros constituintes, para além destes – mas não em vez destes). Assim, ter-se-á uma representação do género:
2.3. definição de frase
Do que acaba de ser exposto, e, em especial, da análise superveniente de (o), aqui se repete sob o item (s):
(s) *o + poeta + poeta + corrigiu + estas provas
deve necessariamente concluir-se que:
(14) uma frase mínima envolve sempre um e só um sintagma nominal e um sintagma verbal (claro que uma frase pode conter outros constituintes, para além destes – mas não em vez destes). Assim, ter-se-á uma representação do género:
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[3] Esta forma de representação esquemática foi amplamente divulgada pela Gramática Generativa Transformacional (GGT), embora seja igualmente recorrente, para a descrição da frase, recorrer à parentetização etiquetada, cuja prática remonta às célebres caixas do estruturalista americano Charles Hockett (1958).
[4] Chama-se à atenção que o facto de o sintagma nominal poder desempenhar funções sintáticas, designadamente, a de sujeito e a de complemento direto, coloca em evidência a pertinência da ordem canónica (SVO), em línguas como o Português.
[5] De referir que cada categoria sintagmática (SN, SV, Sprep, etc. ) corresponde a um nó situado num nível [+ abstrato] da língua. De resto, cada nó é c-comandado relativamente a sua posição no esqueleto da frase sse [se e somente se]:
(i) A não domina B e B não domina A;
(ii) o primeiro nó ramificado que domina A, domina igualmente B.
(i) A não domina B e B não domina A;
(ii) o primeiro nó ramificado que domina A, domina igualmente B.
[6] Seja dito de passagem que o esquema arborescente representa uma imagem invertida da frase, na medida em os constituintes últimos ou terminais representam elementos lexicais (determinantes, nomes, verbos, adjetivos, etc.) e os níveis superiores (os nós) se situam num nível puramente abstrato, isto é, sem correspondência direta com o léxico de uma determinada língua. Daí que o nível inferior (a sucessão de palavras) corresponda àquilo que ouvimos, i. e., ao seu registo sonoro (razão pela qual a Gramática Generativa fala de sintaxe visível), ao passo que todos os outros níveis (nós e ramificações) se situam num plano mental, abstrato e profundo da língua.
[7] O [pro] não é lexicalmente realizado, mas faz parte integrante da estrutura profunda da língua, pois que idiomas como o português são de sujeito nulo, em que a realização do argumento externo é facultativa [(S)VO].
[7] O [pro] não é lexicalmente realizado, mas faz parte integrante da estrutura profunda da língua, pois que idiomas como o português são de sujeito nulo, em que a realização do argumento externo é facultativa [(S)VO].
© Manuel Fontão
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