2010/01/12

MARGARIDA VILA-NOVA E A CORRUPÇÃO

Margarida Vila-Nova é uma actriz portuguesa que nasceu em Lisboa a 6 de Junho de 1983 e, apesar dos seus 25 anos, já perfez 20 anos de carreira. Com efeito, a sua primeira aparição ocorreu na RTP, nos programas de Filipe La Féria (1990, Grande Noite; 1994, Cabaret).
De resto, apenas com 20 anos, a jovem actriz constituiu uma produtora de teatro, a saber, Magnificas Produções (http://www.magnificasproducoes.com/), tendo produzido as peças Confissões de Adolescente, Pedras Rolantes, ABC do Amor, A Menina que tinha medo do escuro, Por Uma Noite e A Noite dos Assassinos.
Por outro lado, no cinema, participou em vários títulos, salientando-se A Corte do Norte de João Botelho (2007), Corrupção de João Botelho (2007), O Fatalista de João Botelho (2005), O Milagre Segundo Salomé de Mário Barroso (2004) e A Falha de João Mário Grilo (2001), tendo sido premiada com a Menção Honrosa no Festival de Cinema da Covilhã, na categoria de Melhor Actriz Secundária.

Já no filme Corrupção, Margarida encarna a personagem de Sofia, que corresponde, na realidade, a Carolina Salgado, companheira de Pinto da Costa (Presidente do Futebol Clube do Porto).
De que consta, o filme? A película mostra, entre outras coisas, o Presidente (Nicolau Breyner) em fúria pelo facto de o seu clube não vencer o campeonato, dá a conhecer a primeira noite de Sofia (Margarida Vila-Nova) e do Presidente, refere-se à entrevista de Sofia à televisão, assim como relata a sua tentativa de vender o manuscrito do livro (Eu, Sofia) a diversas editoras.
Em todo o caso, não fica claro se a jovem Sofia, depois de uma relação mais ou menos intensa e atribulada, decide publicar o livro intimista, ou melhor, à scandale para se vingar do Presidente ou por motivos mais ou menos altruístas. O que é certo é que o filme se assume como altamente polémico e se define, antes de mais, pelo seu tom provocador. Excessivo, por vezes. Com sobriedade, de quando em vez.
Contudo, um dos aspectos negativos, a meu ver, é o facto de a película antecipar quase sempre o tema - banal em si mesmo, pelo que o espectador tem, aqui e ali, a sensação de que a temática domina a imagem. E subjuga as personagens. E determina as suas falas...
Um outro aspecto menos conseguido, na minha opinião, é aquele que se prende com a gratuitidade das cenas de sexo, no caso vertente, com as orgias patrocinadas pela figura do Presidente. Em boa verdade, não se percebe que se queira insistentemente mostrar tudo, quando a arte vale, acima de tudo, por aquilo que encerra, por aquilo que oculta, por aquilo que insinua. Se a literatura é o lugar do não-dito, o cinema, esse, deve constituir o lugar da simulação por excelência. Porque o que conta, ao fim e ao cabo, é a espera. É o antes. É a promessa. É a labareda. O resto é desencanto. É consum(a)(i)ção. São cinzas. É nada. Ou quase...
Ora, a imagem do vácuo, a ideia da ausência absoluta, o arquétipo da morte, tudo isso pode ser transmitido sob múltiplas formas. Como por exemplo, através de um sapato abandonado no recanto do quarto. Pelo viés de uma peça de lingerie que acaba de cair sofregamente no solo. Por meio de uma chávena de café que beija vertiginosamente o tapete dos sonhos. Mas não. O cinema português continua imbuído desta ideia mais ou menos provinciana e bacoca de tudo mostrar - quando não cai na tentação absurda de mostrar como se faz. E, destarte, torna-se ridículo. Quiçá fastidioso. Imberbe, em definitivo. Porquê? Mas vejamos! Porque não deixa espaço, ao espectador, de recriar a sua própria aura intima e intimista. Porque não promove a imaginação criativa do destinatário. Porque destrói sistematicamente a capacidade onírica do outro. Aliás, nessa óptica, será legítimo indagar se estamos perante uma obra de ficção ou de um qualquer filme documentário, quer dizer, de uma qualquer reportagem fotográfica...

Enfim, voltemos à Corrupção, para assinalar um facto digno de registo, a saber, o seu final - que fecha com um intrigante CONTINUA…
Outra coisa não se esperaria, pois que estamos perante um universal do homem...

© Manuel Fontão

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