2009/11/10

O VALOR PLURISSEMÂNTICO DA PALAVRA

Em boa verdade, não revelo um grande interesse pela política enquanto actividade concreta e positiva. Parece-me insípida. Irrisória. Inconsequnte. E, mais do que isso, antropofágica. Aliás, interrogo-me se a política, enquanto ciência, não deveria pertencer exclusivamente ao domínio da filosofia (plano teorético), pois que a sua passagem ao plano do concreto (poder executório) não tem acrescentado, desde Platão ou Aristóteles, nada de novo à vida das civilizações. É que, a cada nova esperança, que, no entanto, se renova, sucede um novo desastre no horizonte de expectativas dos povos (nessa óptica, a política assemelha-se muito ao mito de Sísifo, não obstante me parecer, neste particular, que quem carrega invariavelmente o peso do tonel é o cidadão anónimo, ou melhor, o eleitor... que urge desiludir no decurso da próxima viagem).
O mesmo não poderei dizer do seu discurso (a doxa), que, indubitavelmente me interpela e me fascina. Com efeito, como linguista, é interessante perceber os mecanismos da apropriação da palavra, cujas representações semânticas são objecto de reorientações polissémicas muito curiosas e que se prendem, no essencial, com as ideologias dos campos (adversários) em liça.


© Manuel Fontão

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