2009/11/14

CULTURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA_2

2. A portugalidade

Passo sob silêncio, por manifesta falta de espaço, a questão das balizas temporais do tema, as quais mereciam, todavia, um breve comentário. (Na realidade, o centenário Manoel de Oliveira poderá ser meu contemporâneo in extenso, i.e., tendo em conta o origo?). Não abordarei, de igual forma, a questão da fluidez dos limites geográficos, os quais, provavelmente, não coincidem com as fronteiras geográficas e convencionais (mas já Fernando Pessoa afirmava que a Língua Portuguesa [seria] a sua Pátria, o que põe a nu o carácter artificial da nacionalidade em detrimento, em última análise, daquilo que se entende por portugalidade...). E, por último, não me alongarei sobre as noções de nacionalidade e de portugalidade, cujos conceitos não são, todavia, coincidentes, pelo que estão sujeitos a caução. Em boa verdade, que dizer de uma certa arte, cujos representantes são assumidamente dissidentes, tais como o escritor José Saramago ou a pianista Maria João Pires ? É que, não obstante viverem, respectivamente, em Lanzarote (Ilhas Canárias) e em Salvador da Bahia (Brasil), a verdade é que interpretam cabalmente o ser português, fazem parte integrante do saber-estar e saber-fazer contemporâneos e, a prova disso mesmo é, por exemplo, o discurso oficial de José Saramago, aquando da atribuição do Prémio Nobel ou o projecto da Casa de Belgais em Castelo Branco, na sua fase áurea. (Como ficou referido supra, não cabe, ao analista, fazer qualquer juízo valorativo sobre o objecto de estudo, mas tão-somente constatar os factos - os quais estabelecem, de per si uma analogia mais ou menos evidente, a saber, que, tal como no tempo do V Império, também agora se assiste a uma cisão profunda entre o individual e o colectivo...).
De resto, e contrariamente ao que se crê, a chamada fuga de cérebros para o estrangeiro não é um fenómeno recente, mas, bem pelo contrário, vem de longa data, pois que há toda uma panóplia de artistas que almejaram o sucesso além-fronteiras, como por exemplo, Mário de Sá-Carneiro, Eça de Queiroz, Vieira da Silva, Paula Rego, António Damásio… entre tantos outros!
© Manuel Fontão

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