2009/11/14

CULTURA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA_1


1. Introdução

Cultura é perceber diferenças. Até porque o mundo é fenomenologicamente discreto (no sentido linguístico do termo, em que duas unidades iguais se anulam e se neutralizam...). E, nesta matéria, pouco importa o universo de referência a que se aluda. Com efeito, a moda, a gastronomia, a pintura, a música (o rap ou o hip-hop, por exemplo, são movimentos culturais tão genuínos quanto a génese do fado...), a arquitectura, a escultura, a dança, a fotografia, e, lato sensu, todas as artes performativas têm o mesmo valor antropológico que as formas consideradas mais elevadas da expressão do carácter de um povo, como por exemplo, a língua e a literatura.
Um tal conceito não implica, todavia, que adopte a perspectiva funcionalista de Malinowski (que desembocaria numa espécie de determinismo biológico…), nem a deriva estruturalista de Lévi-Strauss, pois que, se, por um lado, não basta efectuar um estudo sincrónico de uma qualquer cultura primitiva (e primitiva em relação a quê? À cultura de massas? À fragmentação da consciência individual das sociedades pós-modernas? Expulsem o antropocentrismo pela calada da noite; ele regressará em plena luz do dia, já dizia Voltaire… ), por outro lado, dizia eu, vê-se mal como é que a recusa do elemento histórico, ou melhor, como é que a busca dos universais do pensamento humano pode ser percebida fora do sistema simbólico, i. e. ao arrepio de um sistema geral de significações.
Perspectiva semiótica, por conseguinte. Porque o objecto estético – o hiperónimo do nosso campo de estudos – se encontra inscrito num triângulo mediato em que, para além (1) do signo e (2) do interpretante (termo peirciano), há que ter em conta (3) a dimensão contextual da sua manifestação...
© Manuel Fontão

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