2009/07/02

REALPOLITIK_1

“O que proponho, senhor primeiro-ministro, é uma acção rápida, de choque, com helicópteros, Não me diga que está a pensar em bombardear a cidade, Sim senhor, estou a pensar em bombardeá-la com papéis, Com papéis, Precisamente, senhor primeiro-ministro, com papéis, em primeiro lugar, por ordem de importância, teríamos uma proclamação assinada pelo senhor presidente da república e dirigida à população da capital, em segundo lugar, uma série de mensagens breves e eficazes que abram caminho e preparem os espíritos para as acções de efeito previsivelmente mais lento que o senhor primeiro-ministro preconizou, isto é, os jornais, a televisão, as recordações de vivências do tempo em que estivemos cegos, relatos de escritores, etc., a propósito, lembro que o meu ministério dispõe da sua própria equipa de redactores, pessoas muito treinadas na arte de convencer as pessoas, o que, segundo tenho entendido, só com muito esforço e por pouco tempo os escritores conseguem. […] O murmúrio de aprovação que se ouviu na sala mostrou ao primeiro-ministro que este lance havia sido ganho pelo ministro do interior, Assim se fará, tome as providências necessárias, disse, e, mentalmente, pôs-lhe outra nota negativa na página correspondente do caderno de aproveitamento escolar do governo.”

In Ensaio Sobre a Lucidez, p. 183, Caminho




© Manuel Fontão

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