Espaço de partilha, de troca de ideias e de análise crítica da sociedade: PRO TEMPORE.
Espaço de angústia e de inquietação (a hybris) que interroga o outro sobre a condição humana (o pathos): CREDO QUIA ABSURDUM.
Espaço feito de palimpsestos, de narrativas individuais, de arquitexto: POST HOC, ERGO PROPTER HOC.
2009/07/18
A PUBLICIDADE PULA E AVANÇA...
"Sim, eu vendo coisas às pessoas de que elas não precisam. Não posso, no entanto, vender-lhes algo de que elas não queiram. Mesmo com anúncios publicitários. Mesmo se eu estivesse decidido a fazê-lo”. John O'Toole
A consciência individual tem vindo a transferir-se, de forma progressiva mas tangível, do domínio do colectivo para a esfera do privado. Na realidade, assiste-se hoje a um fenómeno de proporções pós-modernas, que se prende grosso modo com um processo crescente de individuação – e que mais não é do que a resultante da descentração do saber e da fragmentação de um certo espírito societário (outro neologismo para comunitário…), pelo que as grandes enciclopédias dispostas em vários volumes, as colectâneas brilhantemente empacotadas para regalo dos nossos familiares, amigos e visitantes de circunstância, os álbuns musicais pespegados em série, os grandes meios de comunicação que formavam e deformavam a opinião pública (i.e. o povo das sociedades coetâneas…), tudo isso, dizia eu, parece começar a esvanecer-se e a ceder o lugar às escolhas mais ou menos cirúrgicas do indivíduo.
A mudança é subtil, certo, mas nem por isso deixa de produzir inauditas consequências na nossa relação com o mundo, pois que, mais cedo ou tarde, cada um de nós terá a sua própria televisão (algumas estações emissoras, antecipando o contexto de mudança, começaram, desde já, a convidar o espectador a construir o seu próprio telejornal…), as suas próprias preferências musicais, compactadas em qualquer suporte digital, o seu próprio recorte de imprensa. Vem tudo isto a propósito, ainda, da publicidade, cujas técnicas se têm revelado, ao longo dos tempos, de uma criatividade e de uma plasticidade verdadeiramente notáveis. Com efeito, e interpretando, de forma eficaz, a visão parcelar e intimista do sujeito, a padaria do meu bairro oferece-me, a troco de nada, o abençoado pão do quotidiano revestido num saco amigo do ambiente e, mais do que isso, declara-se oficialmente discípulo da cultura local. Destarte, a ideia parece-me, de toto em todo, maravilhosa: vou começar o meu novo dia, inculcando (ou deveria, antes, dizer: ingerindo?) a agenda mensal do meu benquisto concelho. Ah sim! É simplesmente genial poder, finalmente, barrar o meu pão com manteiga e, doravante, com os apelativos anúncios do VianaCar, com a tão ansiadaMultiÓpticas, com a patrióticaRemax capaz de vender o meu imóvel enquanto o diabo esfrega o olho e, entre outros motivos de especial e superior interesse, o reconfortante consultório Médicos dos Benguiados, Lda... Não vá a manteiga ou o próprio pão cair-me mal no goto! Obrigado ao MANCILHAS PADARIA por cuidar tão bem da minha saúde! Mas, também, os vizinhos para que é que hão-de servir?... PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O TEMA, CONTACTE O AUTOR DO BLOGUE. OBRIGADO!
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