2009/07/06

AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE

No Dia seguinte ninguém morreu.”
Assim começa este pequeno livro de duzentas e catorze páginas do Campo das Letras, escrito num papel que revela preocupações ecológicas, em que o provérbio Ano Novo, vida nova vem conferir vinha veracidade e substância ao real. Com efeito, às zero horas do primeiro de Janeiro daquele ano (o narrador não especifica o tempo absoluto provavelmente porque tudo, neste mundo, seja relativo…), ninguém, naquele país de características mais ou menos ibéricas, morreria, ninguém conheceria mais o travo amargo do trespasse, em suma, as defunções fariam, doravante, parte de um passado revoluto – o que, até ao momento, nunca tinha acontecido (pelo menos a história da humanidade jamais havia recenseado um facto desta amplitude, isto excluindo obviamente a hipótese de a História se ter esquecido de registar a efeméride…)
Ano Novo, vida nova! Doravante, e sem se perceber porquê (ele há factos que parecem não merecer qualquer resposta…), a imortalidade tinha contemplado aquele país monárquico, tinha presenteado todos os seus habitantes com o elixir… da vida eterna. Que ditosos serão, no futuro, aqueles homens e mulheres que já não teriam de pagar a livrança! Que bem-aventurados serão todos aqueles que, como a rainha-mãe, já deveriam ter finado! Acabar-se-iam, por certo, as guerras de alecrim e manjerona. Cessariam os acidentes, a violência gratuita, a injustiça. Em suma, expurgar-se-ia definitivamente o mal. Que bom!...




© Manuel Fontão

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