Todavia, numa segunda leitura, parece que a personagem que o narrador vai construindo mais não é do que o reflexo das próprias dúvidas do responsável genético pela instância narrativa. Com efeito, desde as primeiras linhas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo é perceptível a estratégia diegética: é uma narrativa mise en abyme, quer dizer, é um texto (narrativo) que se alimenta de outros textos. Assim, não é apenas o ponto de referência primeiro que está aqui em causa (Os Evangelhos canónicos e institucionalmente reconhecidos), mas o narrador lança magistralmente mão de toda uma multiplicidade discursiva mais ou menos heteróclita e tributária de linguagens secantes (na sua acepção matemática), como é o caso da obra plástica de Durer (primeiro capítulo), passando por inúmeros recortes do Velho Testamento, do Eclesiastes (livro poético e sapiente do Antigo Testamento), do Livro de Job (teodiceia clássica, na medida em que procura justificar a coexistência do mal e de Deus), do Cântico dos Cânticos dos Evangelhos Apócrifos (texto alegórico que canta, em oito capítulos, o amor de Deus e de Israel). Mas não só. O narrador também recorre, vezes amiúde, a incursões filosóficas e de inspiração psicanalítica, como por exemplo, as alusões a Aristóteles, a Freud - entre outros.
Espaço de partilha, de troca de ideias e de análise crítica da sociedade: PRO TEMPORE. Espaço de angústia e de inquietação (a hybris) que interroga o outro sobre a condição humana (o pathos): CREDO QUIA ABSURDUM. Espaço feito de palimpsestos, de narrativas individuais, de arquitexto: POST HOC, ERGO PROPTER HOC.
2009/07/06
O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO
Trata-se de uma obra em que o narrador se centra na figura histórica de um Jesus que vai ganhando uma consistência e uma individualidade assaz diferentes daquilo que é convencionalmente estabelecido e que a crença, de resto, foi consolidando através dos séculos.
Todavia, numa segunda leitura, parece que a personagem que o narrador vai construindo mais não é do que o reflexo das próprias dúvidas do responsável genético pela instância narrativa. Com efeito, desde as primeiras linhas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo é perceptível a estratégia diegética: é uma narrativa mise en abyme, quer dizer, é um texto (narrativo) que se alimenta de outros textos. Assim, não é apenas o ponto de referência primeiro que está aqui em causa (Os Evangelhos canónicos e institucionalmente reconhecidos), mas o narrador lança magistralmente mão de toda uma multiplicidade discursiva mais ou menos heteróclita e tributária de linguagens secantes (na sua acepção matemática), como é o caso da obra plástica de Durer (primeiro capítulo), passando por inúmeros recortes do Velho Testamento, do Eclesiastes (livro poético e sapiente do Antigo Testamento), do Livro de Job (teodiceia clássica, na medida em que procura justificar a coexistência do mal e de Deus), do Cântico dos Cânticos dos Evangelhos Apócrifos (texto alegórico que canta, em oito capítulos, o amor de Deus e de Israel). Mas não só. O narrador também recorre, vezes amiúde, a incursões filosóficas e de inspiração psicanalítica, como por exemplo, as alusões a Aristóteles, a Freud - entre outros.
© Manuel Fontão
Todavia, numa segunda leitura, parece que a personagem que o narrador vai construindo mais não é do que o reflexo das próprias dúvidas do responsável genético pela instância narrativa. Com efeito, desde as primeiras linhas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo é perceptível a estratégia diegética: é uma narrativa mise en abyme, quer dizer, é um texto (narrativo) que se alimenta de outros textos. Assim, não é apenas o ponto de referência primeiro que está aqui em causa (Os Evangelhos canónicos e institucionalmente reconhecidos), mas o narrador lança magistralmente mão de toda uma multiplicidade discursiva mais ou menos heteróclita e tributária de linguagens secantes (na sua acepção matemática), como é o caso da obra plástica de Durer (primeiro capítulo), passando por inúmeros recortes do Velho Testamento, do Eclesiastes (livro poético e sapiente do Antigo Testamento), do Livro de Job (teodiceia clássica, na medida em que procura justificar a coexistência do mal e de Deus), do Cântico dos Cânticos dos Evangelhos Apócrifos (texto alegórico que canta, em oito capítulos, o amor de Deus e de Israel). Mas não só. O narrador também recorre, vezes amiúde, a incursões filosóficas e de inspiração psicanalítica, como por exemplo, as alusões a Aristóteles, a Freud - entre outros.
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