2009/06/17

UM CONSELHO DE MINISTROS PERTO DE SI

"Meia hora depois os ministros voltaram. Não se notavam as ausências. (...) O primeiro-ministro (...) parecia satisfeito com a sua pessoa. (...) Quando aqui chamei a vossa atenção para a necessidade urgente de uma mudança de estratégia, visto o falhanço de todas as acções delineadas e executadas desde o começo da crise, começou ele, estava longe de esperar que uma ideia capaz de nos levar com grandes probabilidades ao triunfo pudesse vir precisamente de um ministro (...) O nosso equívoco, o nosso grande equívoco, cujas consequências estamos agora a pagar, foi precisamente essa tentativa de obliteração, não da memória, uma vez que todos que todos poderíamos recordar o que se passou há quatro anos, mas da da palavra, do nome, como se (...), para que a morte deixasse de existir bastasse não pronunciar o termo com que a designamos. (...) É esta justamente a questão principal , e é ela, se não estou em erro, que nos vai trazer de bandeja a possibilidade de resolver uma vez o problema em que apenas temos conseguido, quando muito, aplicar pequenos remendos que não tardam a descoser-se e que deixam tudo na mesma. (...) Ousemos dar um passo em frente, substituamos o silêncio pela palavra..."

José Saramago, in Ensaio sobre a Lucidez, pp. 178/179




© Manuel Fontão

1 comentário:

Anna disse...

Gostei de deambular por este quiosque, ao som da doçura da música francesa de que sinto tantas saudades...
Seguramente, vou voltar. Até lá, comme disent les français, bon vent...