2009/06/09








ó grande Carlos mas que constituição é essa
a tua ó santareno ó constitucional
que excesso de bovarysme na tua alma
na tua natureza no teu versátil temperamento

ó meu Carlos barão agiota romântico
tu dizes amar Laura a primeira
e Júlia a discreta
e Georgina a esbelta
mas no teu peito irrompem com grande viço
as três donzelas anglicanas perfeitas gentis
mais a tua freirinha da Terceira
não na verdade não entra do mesmo modo a Soledad
que pena expia por não ter convencido o noviço

tu sonhas e escreves
tu sonhas e amas
tu sonhas e andas de braço dado com a ideia
com a figura prima pátria tutelar
que o teu amor não é por inteiro
não é partilha
não é religião
o teu amor sabes não é mais do que preceito
é tão-somente desejo é em suma modelar
tu meu Carlos tu meu herói soldado minha estrela
poderias ter sido um bravo do Mindelo um regenerado
mas nunca um cabralista
Um filósofo deve ser um homem
livre sem partido sem guarida sem calabres não é

tu homem romântico nunca poderias ser por exemplo
o Carlos o simples Carlos da Joaninha

porquê
ora a menina dos rouxinóis ela
é do Vale não passa de Santarém
tu tu meu Carlos amigo tu
és de Londres és du Havre és de longe
viveste em – shire combates na frente
és audaz és guerreiro és tudo isso ó liberal

em resumo perseguiste o sonho buscaste glória
parece-me bem ninguém te pode levar a mal

© Manuel Fontão

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