2007/02/07

Vila do Conde policiada

foi-se o vasto areal foi-se o verde pinhal
vai o betão à linha dunar
cercando a cidade abalroando o mar

há ruas esquinas praças avenidas
onde a memória se aviva se apinha
para ver o horrendo espectáculo que lá vai
cidade arriba azimute médio ao cais

há lágrimas nos beirais dos prédios
há tédio nas portas de entrada
há medo nos logradouros
há salitre a desafiar a nortada
nos ramos das árvores nas bermas das estradas

foi-se tudo tudo
ficou o vento
ficou a fibra de cimento
ficou o mar embravecido mais a saudade

ficaram os textos terra-ar envoltos em manhãs de neblina

ei-los que batem todos em surdina a costa muda
e quando enfim o espectáculo finda o pano cai
cessa o frio sossega o mar
deixando a fuligem a nu o sargaço aos molhos

há em toda a vila uma longínqua ária
a espalhar lembranças régias esperanças vagas
ao salitre que passa

abraçado à memória
de uma pólis mais província
menos urbana

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