2019/03/01

A generosidade do contribuinte português à luz da mentalidade [ainda] imperial


Ouvi, claramente ouvido, o depoimento da Senhora Presidente do Instituto do Mundo Lusófono, e, como não pertenço à classe dos invejosos e dos maledicentes, não lhe vou, por certo, perguntar acerca da forma e do modo como chegou até aqui. Ce ne sont pas mes oignons, entende?...

Contudo, o fundo da questão levantado pela Sra. Presidente é tudo menos claro e objetivo – e explico porquê...

A Sra. Presidente do Instituto do Mundo Lusófono, nome pomposo, que, confesso, desconhecia, conhece algum país do mundo – e repito – conhece algum país do mundo, cara Sra. Presidente, que pague em duplicado o ensino de uma determinada disciplina, devidamente inserida no processo de ensino e de aprendizagem, quer na sua fonte, quer no país alvo?...

Eu explico-lhe, cara Senhora Presidente, que eu fui Leitor da Universidad Central de Venezuela [Caracas] e Coordenador EPE designado para as Américas do Sul e afins – e, nesta qualidade  de que eu abdiquei, por razões que não cabem nesta explanação, deixe-me indagar o seguinte:

– Quem é que paga o ensino da Língua Francesa desenvolvido em todo o território português?
– Quem é que paga o ensino da Língua Inglesa desenvolvido em todo o território português?
– Quem é que paga o ensino da Língua Alemã desenvolvido em todo o território português?
– Quem é que paga o ensino da Língua Castelhana [Espanhol] desenvolvido em todo o território português?
– Quem paga ao ensino das línguas periféricas e supervenientes de fluxos migratórios circunstanciais, mas igualmente emergentes?

Eu respondo-lhe, cara Senhora Presidente do Instituto do Mundo Lusófono, Isabelle Oliveira: é o contribuinte português, naturalmente generoso, solidário, e, admitamos, um pouco pateta, porquanto, permita-me, cara Sra. Presidente, colocar a questão do avesso – que, a maior parte vezes, a melhor compreensão de um determinado assunto surge pelo processo ad absurdum. Eis, pois, o mesmo rol de questões, mas perspetivado pelo lado oposto [que, na circunstância, é o mesmo], pois que o contribuinte/pagador é, também ele, o mesmo:

– Quem é que paga o ensino da Língua Portuguesa desenvolvido em todo o território francês, via leitores, professores, coordenadores EPE?
– Quem é que paga o ensino da Língua Portuguesa desenvolvido em todo o território inglês, via leitores, professores, coordenadores EPE?
– Quem é que paga o ensino da Língua Portuguesa desenvolvido em todo o território alemão, via leitores, professores, coordenadores EPE?
– Quem é que paga o ensino da Língua Portuguesa desenvolvido em todo o território espanhol, via leitores, professores, coordenadores EPE?


Sejamos honestos, cara Sra. Presidente! Procure no mapa um país linguisticamente tão generoso quanto o nosso – não o encontrará, por certo. E sabe porquê? Porque não existe! Assim como não encontrará um país com uma rede diplomática tão abrangente e tão universal quanto a nossa. E, no fundo, sabe, é isto que me dói! Não perceberem a enorme, a imensa, a incomensurável GENEROSIDADE do contribuinte português! Também lhe pode chamar PALERMICE. C’est selon, étant donné que vous vivez en France ! Justement... un pays incommensurablement plus riche que nous – et pourquoi ne vous retournez-vous vers votre pays d’accueil ?

Amicalement,

Manuel Fonseca Fontão



Remarque: à propos de romantisme envers toutes les langues du monde, je vous dédie cette belle musique - et surtout le poème qui s'y attache d'une façon impressive... Ainsi que j'ai à vous adresser, en guise de plaisanterie, le dicton portugais, selon lequel: Ó ESTRELA! QUERES COMETA? ...


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