2011/11/20

O quadro espácio-temporal das trocas verbais

1. O quadro espácio-temporal

O quadro espacial pode ser encarado na sua perspetiva puramente física e, destarte, teremos de perceber quais são as características físicas do lugar onde se desenvolve a atividade comunicativa, como por exemplo, perceber se se trata de uma troca verbal efetuada em plena rua, no mercado, em casa, num consultório médico, no contexto/aula, etc. Igualmente importante, será precisar se a comunicação se confina a um espaço aberto ou fechado [1], se é produzido num quadro rural ou urbano, num meio institucional [2], numa situação mais ou menos informal, etc. Um outro dado importante, também, será avaliar a organização proxémica [3] dos participantes (frente-a-frente, lado a lado, à distância, etc.), a linguagem paraverbal que mobilizam, os sinais não verbais que pontuam a sua produção linguística, etc.

Por outro lado, o quadro espacial pode ser perspetivado sob o ângulo da função social e institucional, sendo que um tribunal ou uma escola não devem ser encarados, aqui, na sua dimensão meramente física, mas, antes, como lugares onde se exercem as funções judiciária e pedagógico/didática, respetivamente. Na realidade, um enunciado do género:

(1) A sessão está terminada!

será interpretada de forma diferente num tribunal ou numa universidade: no primeiro caso, indicará que o juiz dá por terminado o julgamento, ao passo que, no segundo, indica que a aula terminou.

Por fim, importa esclarecer que o quadro temporal é igualmente determinante para o decurso da interação verbal. Em boa verdade, não podemos saudar o nosso interlocutor no meio da discussão, assim como não podemos endereçar os votos de bom ano em março ou em agosto. Isto para dizer que é de suma importância dizer the right think at the right time

Nesta matéria, são sobejamente conhecidos os casos do letreiro à porta do barbeiro, contendo o enunciado AMANHÃ, FAÇA A BARBA: É GRATUITO, ou a indicação esquecida numa porta de uma sala de aulas referindo que HOJE, A AULA É NO AUDITÓRIO…
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[1] Há estudos que comprovam que os espaços abertos aumentam exponencialmente o recurso ao palavrão e ao piropo
[2] Aliás, seja dito de passagem, as instituições, num esforço de adaptação aos tempos modernos, foram paulatinamente abolindo uma conceção do espaço mural, impenetrável e aristocrático, do mesmo modo que as organizações pós-modernas optaram por espaços de trabalho abertos e amovíveis. Tal facto acompanhou, de resto, a divisão das tarefas e a flexibilização de meios. Todavia, ainda fazem parte da nossa memória coletiva os antigos guichets da CP, das Repartições públicas, dos CTT, dos Postos Médicos, que refletiam, assim, uma certa interioridade da fala… e do homem. 
[3] Estudo das distâncias físicas (que as pessoas estabelecem espontaneamente entre si no contacto social) e das variações dessas distâncias, de acordo com as condições ambientais e tendo, igualmente, em conta os diversos grupos ou situações sociais e culturais em que se encontram.

© Manuel Fontão

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