2010/08/24

MÚSICA_A IDEIA CONVERSA_4. CONCLUSÃO

Falei de fotografia. E de arte. Quer dizer, de um certo conceito de arte – o meu. E, neste particular, socorri-me das técnicas da semiologia. Porque me parece que é desejável aplicar técnicas de análise diferenciadas, justamente, para gerar perspectivas diferentes. Foi o meu propósito. E a minha estratégia de legitimação. Muito mais haveria, contudo, a dizer. Mas o espaço é exíguo. E o tempo urge. Resta-me, no entanto, a consolação de ter tentado captar, nos dois autores, aquilo que tematicamente os une e identifica: o carácter interdisciplinar dos respectivos trabalhos. Que é, também, o devir deste objecto de estudo.

Aliás, uma técnica exemplar, a meu ver, do devir da fotografia é a colagem aplicada à fotografia , por exemplo, que não é mais do que uma tentativa de criar pontos de contactos entre a pintura, a fotografia, o desenho e a escrita.

Claro que não entendo, aqui, a técnica como uma provocação gratuita, mas como um trabalho de (des)construção do real que pretende fazer entrar o sentido no seu interior. De resto, segundo Brecht, uma simples representação da realidade não significa, mas, bem pelo contrário, é o elemento extrafotográfico que é o responsável pela lógica interna do sentido, ou seja, a possibilidade de tratar a fotografia como material significante e como gesto (reunir, recortar, colar…). Sem mais. Razão acrescida para acreditar que a fotografia é, hoje, mais do que nunca, entendida como uma arte heteróclita e interdisciplinar.

Significa isto, pois, que há uma vontade artística de elaborar uma nova ordem significante e, para o efeito, será necessário abandonar o saber/fazer clássico. E pouco (me) importa se os elementos visuais de conjunto são contraditórios, controversos ou provocantes, tanto mais que a noção de autor – a autoridade genética – é um sucedâneo do todo social. Ora, muito justamente, se disforia há, isso deve-se, porventura, ao facto de a sociedade coetânea estar submersa num conjunto de paradoxos e de tensões resultantes do exílio do homem – pelo que aquilo que o criador (me) tem para dizer valerá tanto pelo seu carácter aberto, disruptivo, cacafónico e paroxístico – como pelo lado anverso de tudo isto. C’est selon.
© Manuel Fontão

Sem comentários: