2010/08/23

A MODA_O PARADIGMA ESCONDIDO_3.CONCLUSÃO

Ce sont les hommes qui ont voulu le corset, comme tant d'autres complications et surcharges, parce qu'à ce moment-là ils avaient une idée de la femme vêtue qui s'éloignait le plus possible de la femme nue, et qui les excitait d'autant.
J. Romains, Les Hommes de bonne volonté, t. I, III, p. 48.

Falei de moda. Falei de design aplicado ao escopo do objecto de estudo E, todavia, tenho a indelével sensação de que falei (quase exclusivamente) da mulher. Aqui e ali, entrevi o belo, a sensualidade e a sedução. Vislumbrei, de quando em vez, a transgressão e o proibido. Porque a moda, ou, pelo menos, uma certa concepção de moda, produz, à saciedade, um sem-número de imagens sexistas. Aliás, a crescente abertura aos media (rádio, televisão, fotografia) tende ao desnudamento da mulher e não se sabe ao certo onde fixar os limites do razoável. Por conseguinte, sinto que há um combate feminino que urge levar a cabo, pese embora o campo da luta se situar, doravante, para lá do universo de origem.

Por outro lado, importa registar que os signos textuais e linguísticos se arredam, cada vez mais, do discurso da moda: a figura feminina é um ser escandalosamente desprovido da palavra, um locutor mudo e um alocutário sem direito ao contraditório. É uma espécie de animal em palco. Claro que os logótipos, as marcas, as roupas, os slogans estão presentes na sua representação do mundo como vontade e como desejo, mas os objectos, esses, são-lhes, por assim dizer, externos e porventura estranhos, escapam-se-lhes por entre as mãos e revelam, em última análise, o nome do possuidor. Nesta óptica, assiste-se a uma crescente coisificação do feminino, processo esse que a imagem, a maior parte das vezes descontextualizada, acaba por amplificar e distorcer. E que o desejo, que se encontra por detrás do produto vendável, liberta sob a forma de fantasmas – o paradigma escondido.
© Manuel Fontão

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