2010/08/23

DESIGN GRÁFICO_O PODER DE COMUNICAÇÃO_1. INTRODUÇÃO

O acto de comunicar é o encontro de fronteiras perceptivas.
Maurice Merleau-Ponty

Desde a noite dos tempos que o homem comunica. Primeiro, tudo deve ter começado com o grunhido, na exacta medida em que o homem primitivo procurava, por certo, imitar os sons da natureza (cf. canto dos pássaros, o som do latido, o ruído do trovão). Aliás, poder-se-á mesmo imaginar que o som produzido não terá sido apenas produzido pela boca, mas também com o auxílio das mãos, dos pés ou de objectos circundantes. Pouco importa, de resto, como o processo terá começado. O que é verdadeiramente importante é perceber que o homem terá fisiologicamente evoluído até a libertação das mãos (homo erectus). Com efeito, a posição erecta possibilitaria a valorização da linguagem gestual e, numa fase posterior, a voz terá sido transformada em fala.

Quer dizer que os homens, seguindo ou não as teses rousseauístas, terão finalmente encontrado uma forma de associar um som (ou um objecto) a um gesto (ou a uma acção). E assim terá nascido o signo, que é, no fundo, algo que faz referência a outra coisa, emprestando-lhe, por esse viés, uma significação...

Todavia, foi só a partir das teses de Shannon e Weaver que a comunicação (verbal ou não-verbal) se viria a aplicar, grosso modo, à transmissão de mensagens e, nesta acepção, comunicar consiste numa actividade que coloca em interacção pelo menos dois interlocutores com o objectivo de trocar uma determinada informação, isto é, com a intenção de partilhar sentidos, seja em suporte escrito, seja em formato icónico.

Face ao exposto, parece óbvio que a comunicação, enquanto processo semiótico, se pode manifestar pelos mais diversos meios, como por exemplo, o gesto, a cor, a variação cromática, a nuance, a forma, o som, etc. Claro que, nos dias de hoje, importa perceber, acima de tudo, as finalidades do produto (da comunicação) e, nesta matéria, vai uma grande diferença entre uma comunicação oral (síncrona, espontânea e imediata) ou visual (assíncrona, preestabelecida e mediata). Com efeito, ao passo que a primeira se prende com o hic et nunc, quer dizer, com as condições materiais do acto da enunciação, a segunda deverá, fundamentalmente, fazer prevalecer um sem-número de critérios de legibilidade e de identidade, como por exemplo, um logótipo, uma frase emblemática, um formato específico, uma tipologia diferencial, um slogan pertinente e, em última análise, todo e qualquer suporte capaz de potenciar uma comunicação distintiva e discreta. Neste sentido, a comunicação visual deve ter em conta a importância da decoração e das informações apostas sobre o produto em causa, assim como se deve ocupar, não apenas da embalagem e da edição (cf. brochures, dépliants, livros de instruções, jornais internos ou destinados ao público-alvo), mas também da estratégia publicitária mais conveniente.
© Manuel Fontão

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