2009/12/21

A ILUSÃO DO DRAMÁTCO_CONCLUSÃO_06

Parece claro, face ao exposto supra, que o teatro é, antes de mais, espaço comunicacional e gregário em que a consciência individual se dilui (no colectivo). É que a arte dramática strictu senso prende-se, na sua essência, com o hic et nunc. É essencialmente deíctico. Quer dizer, dirige-se às pessoas do discurso. Quer dizer, constitui o lugar, por excelência do eu/tu – que ele (a terceira pessoa gramatical) é uma não-pessoa…
Assim, um teatro sem as suas condições de produção concretas, quer se tenha presente a sua geografia cénica, o seu espaço cénico, o seu movimento físico, os seus objectos materiais, os seus corpos dançantes, a sua áurea poética, a sua arte circence, a sua sonoplastia, a sua plasticidade, os seus jogos cromáticos, as suas peripécias lúdicas, a ligeira hesitação ou, por outras palavras, a indelével improvisação que passa imperceptível ao incauto ou ao leigo – tudo essas minudências (mas repletas de sentido específico…) podem – e são – ser reprodutíveis pelo viés da imagem. Mas o preço a pagar, como ficou claro no capítulo anterior, é o exílio do próprio homem. É a sua condição social. É a sua comunhão com o outro. É a sua percepção do real – que lhe chega mediatizada, pixelizada, deformada – inconsistente.
Ora, isso não é teatro: é a sua representação semiótica. É uma realidade segunda. É um subproduto das sociedades pósmodernas. É a sua própria imagem reflectida no campo de consciência – e de percepção – individual. Nesta óptica, o teatro (como toda a imagem…) não revela o que quer que seja – antes, oculta o que lá está. Aliás, se aqui se fala de teatro é porque ele não está presente. Se eu estivesse, por exemplo, à boca da cena, absorto, hipnotizado, em transe, em catálise, à solta dentro de mim, não poderia discorrer dela, não teria espaço mental para reflectir sobre a acção dramática, sob pena de me ausentar no acto puro. Tal como na vida…
© Manuel Fontão

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