2009/11/29

UM FEIXE DE LUZ NA CENA VENEZUELANA_08_CONCLUSÃO

A comunicação ou a compreensão dos gestos obtém-se pela reciprocidade entre minhas intenções e os gestos do outro, entre meus gestos e intenções legíveis na conduta do outro. Tudo se passa como se a intenção do outro habitasse meu corpo ou como se minhas intenções habitasse o seu

Merleau-Ponty

A dança é um modo de manifestação artístico que, contrariamente a outras formas de arte, apela aos cinco sentidos. Provavelmente por isso, a comunicação verbal, um subproduto das civilizações, seja dispensável. Porque intransitiva. Porque construída. Porque artificial. Com efeito, no domínio da dança, é o corpo que tem a palavra, é o corpo que estabelece o diálogo com o outro. Daí que tenha, no decurso deste trabalho, dado um certo ênfase à expressão corporal. Mas também o mimo (o gesto) assume, aqui, um papel de relevo, tanto mais que a dança é, acima de tudo, movimento sustentado. Harmónico. Significativo.
Mas não só. O corpo dançante e em movimento pretende atingir uma certa finalidade, isto é, é dotado, tal como um texto, de uma certa orientação argumentativa. Com efeito, o homem dança e mexe-se e move-se e anda porque quer atingir uma determinada intenção, quer dizer, pretende alcançar aquilo que os linguistas designam de intencionalidade comunicativa. A cada um de nós caberá reconstruir o sentido. Sempre provisório. Sempre instável e precário. Como convém!...
© Manuel Fontão

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