2009/11/21

FUERZABRUTA

Ontem, na plaza Alfredo Sadel, em Las Mercedes (Caracas), cerca de 800 pessoas tiveram a oportunidade de assistir a um espectáculo protagonizado por FUERZABRUTA, uma Companhia argentina que vai repetir, até ao próximo dia 29, a presente proposta cénica. Aliás, o próprio criador deste maravilhoso espectáculo (Diqui James) avisara os caraquenhos, há uma semana, nestes termos: en fuerzabruta no hay telón ni escenario. No existen libretos ni diálogos. Tratamos de ir más rápido que el pensamiento del espectador, para que después piense qué le pasó. Aquí, el espectador tiene que abrir los ojos y estar atento, porque no tiene la protección de la butaca."
O referido espectáculo começaria com quase uma hora de atraso e a primeira cena mostrou um homem devidamente trajado (de papillon) a correr sobre uma esteira... até ter sido atingido por uma bala. Bela metáfora do homem hodierno, designadamente, o desapontamento e o estupor decorrentes de um quodiano alucinante...
Em boa verdade, só quando o homem do papillon acabou por adormecer (requiem ou sonho?C'est selon...) é que se pôde vislumbrar a entrada em cena de duas bailarinas que, desafiando as leis da gravidade, começaram a dançar sobre uma lona que, entretanto, se havia estendido ao largo de uma das paredes do local do espectáculo. Este momento cénico constituiria um verdadeiro exercício de fusão e de interacção entre música, dança, teatro e arte, razão pela qual os presentes se sentiram, por instantes, arrebatados e rendidos.
Todavia, o momento mais esperado - e o mais publicitado pela Companhia - prendeu-se com a terceira cena. Com efeito, graças a uma napa transparente, sobreposta sobre o recinto que se ia enchendo de água (e mesmo por cima dos espectadores), os presentes puderam observar quatro actrizes que evoluíam, assim, com sensualidade e graça, sobre as suas cabeças. Quase nuas. Lá onde a nudez metonimicamente perpassava. Ou talvez não. Nem sei: a emoção não passa pelo crivo da razão...
Em suma, fuerzabruta consite numa proposta arrojada e algo frenética que, tal como uma vertigem, apela aos cinco sentidos de um espectador desorientado, e, mais do que isso, põe à prova o sistema multissensorial do observador que se vê, de repente e sem saber muito porquê, mergulhado num oceano de emoções - tão fugidias quanto a própria vida (dada em espectáculo...).


© Manuel Fontão

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