CCS CARACAS CCS

Caracas, uma cidade levantada do chão. Pelas suas gentes. Pelo burburinho quase febril do seu dia-a-dia. Pelo seu estilo ladino. Caracas. E o mar ali tão perto, apenas encoberto pelo Monte Ávila. E a força telúrica que parece vir das entranhas da terra. E o céu incerto que não chega, todavia, a ameaçar. Caracas.

Uma cidade mais perto da abóbada celeste. Mais perto da crosta terrestre, também. Mais longe, enfim, da candura do homem das trevas. Caracas. Uma cidade que, de manhã cedo, está na rua: espreita, por uma nesga, o ruído de fundo informe da condição humana. E uma sombra que iluda a canícula. Caracas. Uma cidade de contrastes em que o verde, frondoso, choca com o cinza indolente. Em que o lojista da esquina, espécie de criatura 3G, esbarra com o vendedor ambulante de olhos vagos. E grandes. Desmesuradamente vagos e grandes. Em que a propriedade, horizontal, luxuosa e virada a sul do lugar de quem entra, coabita com os casebres sem norte e sem direcção. Verticalmente. Vertiginosamente. Caracas. Uma cidade de linhas incomensuravelmente rectas. Que se cruzam. E se desfazem no fio do horizonte. Que, mais além, há lugar a uma infinitude de quadrados. E de losangos. E de rectângulos. E de círculos mais ou menos atónitos, lá onde o olhar se queda mudo. E surdo. E insensível. Caracas. Uma cidade escandalosamente geométrica. Astúcia de aprendiz-feiticeiro? Encantamento de Circe? Feitiço de amor? É conforme. A vertigem tem nome. Caracas.

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