2009/07/23

O ESTADO DO ENSINO TÉCNICO...



1.0. ESTADO DA QUESTÃO

...Numa das suas viagens, Chesterton visitou um lugar em que se estava a iniciar uma construção. Aproximou-se de um dos operários e perguntou-lhe o que estava ele a fazer. O operário respondeu-lhe que estava a picar uma pedra para que a mesma ficasse lisa e quadrada. De seguida aproximou-se de um outro operário e fez-lhe a mesma pergunta, tendo este respondido que estava preparando uns pilares que suportariam uma parede. (...) Quando repetiu a mesma pergunta a um outro operário, este disse-lhe que estava fazendo uma catedral. (...)

Zabalza, Miguel A. (1987)Planificação e desenvolvimento curricular na escola. LISBOA: Edições Asa, p. 11.


Todos nós sabemos, de forma mais ou menos intuitiva, que a Técnica, na sua acepção própria, isto é, como um conjunto variável de sequências ou actos técnicos, constitui uma das mais importantes manifestações culturais das nossas sociedades. Basta pensarmos, com efeito, na indústria automóvel, na robótica ou na digitalização da imagem, para nos darmos conta de que nos é, hoje, possível – e quase banal! – possuirmos uma viatura com travões ABS ou acedermos, via Internet, à página oficial do PROGRAMA ERASMUS da responsabilidade da Comissão Europeia sediada em Bruxelas. Aliás, registe-se, em guisa de parênteses, que siglas tão comuns como CD, PC, HD, DVD, PSP, HTML, MSN, TAC MP4, JPEG, GIFT (e tantas outras…) fazem parte integrante do nosso vocabulário e percebemos, de forma mais ou menos vaga, que a língua encerra alguma dificuldade perante a evolução tecnológica dos nossos dias, pelo que me questiono acerca da possibilidade de se criar uma comissão capaz de impor alguma ordem neste aparente caos, a exemplo, de resto de outros países europeus...

Poder-se-ia, à primeira vista, pensar que este estado de coisas tem mais a ver com a Ciência do que propriamente com a Técnica, se bem que uma e outra constituam, por assim dizer, as duas faces de uma mesma realidade, a saber, o objecto técnico, quer dizer, o produto final, ou, melhor ainda, o bem de consumo....
Mas assim não é, na realidade. Tomemos como exemplo o (tele)comando, que, grosso modo, não é mais do que o resultado de uma acção exterior (carregar num botão) remotamente traduzida por uma ordem (de comando). Em que consiste, pois, nesta matéria, a parte relativa ao científico? E qual é o tributo devido, em última instância, à componente técnica (para não falar da questão do artístico, que terá mais a ver com a concepção estética do objecto)? A resposta parece óbvia: temos, por um lado, um princípio estruturador (científico) e, por outro, uma manifestação tecnológica, i. e. um conjunto mais ou menos variável de técnicas transversais, sejam elas de cariz manual, mecânico, (foto)eléctrico, digital, etc, pelo que se poderá afirmar, em guisa de resumo, que todo e qualquer produto final nasce da união entre a técnica e a ciência.






© Manuel Fontão

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