2009/06/23

UM AMOR

um amor de causa perdida
demasiado surdo mui sóbrio pouco pródigo
duas flores vigorosas felizes no deserto
de sentimentos esvaziados exangues
um quarto de emoções consentidas
alienadas a retalho ao velho leiloeiro do bairro

o protagonista canta coitado melopeias
ela arguta cativa deleita perante a base de licitação
e o artigo sem alma decididamente não alicia não vende
nem podia

entre um e outro não há meias falta fazenda
o homem desmancha negócios sem chama
e a heroína do romance da extinta alcova
crava um alfinete de bebé na menina dos olhos
do coração bicéfalo do herói
em sinal de fadiga de desilusão de embaraço
em final de sessão

o quociente de toda esta magra partilha
mais o resto da operação algoritmicamente calculada
é nula quer dizer é cinza é esperma é quase nada

faltou fantasiar o preâmbulo de tudo isto
à horda do Olimpo sem mesa fausta
sem pacto secreto sem cartilha à vista
a bem do mito

In Livro Três





© Manuel Fontão

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