2009/12/19

O TEATRO DA CORNUCÓPIA

O Teatro da Cornucópia foi fundado em 1973 por Jorge Silva Melo e Luís Miguel Cintra, vindos do teatro universitário, que reuniram em torno do seu projecto de companhia de teatro um pequeno grupo de actores profissionais. Até ao 25 de Abril de 1974 trabalhou sem sede própria e foi apoiado por subsídios esporádicos da Fundação Calouste Gulbenkian. O programa inicial, condicionado pela censura fascista, centrava-se no repertório clássico (Molière e Marivaux). A partir de 1974, centrou-se na dramaturgia contemporânea com a intenção de construir um teatro de reflexão com uma função activa na realidade cultural portuguesa. Num primeiro ciclo temático (pequena burguesia-revolução-dominação ideológica) levou à cena Terror e Miséria no Terceiro Reich de Brecht, Pequenos Burgueses de Gorki, Ah Q de Jean Jourdheuil e Bernard Chartreux, Casimiro e Carolina de Odon Von Horváth, Woyzeck de Büchner, Alta Austria e Música Para Si de Kroetz e O Treino do Campeão Antes da Corrida de Michel Deutsch. Foi nessa fase que a companhia teve a colaboração dramatúrgica de Jean Jourdheuil e que nele ingressou a cenógrafa Cristina Reis que, a partir de 1980, com a saída de Jorge Silva Melo, viria a partilhar a direcção com Luis Miguel Cintra. (…) O Teatro da Cornucópia tem levado à cena alguns dos grandes clássicos de todos os tempos (Gil Vicente, Shakespeare, Wycherley, Tchekov, Strindberg, Beaumarchais, Lenz, Hölderlin, Kleist), e tem abordado textos de muitos géneros, mas a sua orientação não é a de uma companhia de repertório. Pretende intervir culturalmente na sociedade portuguesa e não abdicar do teatro como terreno privilegiado da criação artística e grande instrumento de pensamento das sociedades. A programação recente tentou conservar o carácter mais experimental do seu trabalho. Desde 1990, abordou alguns dos dramaturgos de escrita mais radical do século XX (Beckett, Orton, Botho Strauss, P. Handke, Edward Bond, Genet, Gertrude Stein, Lars Nóren, Brecht, Pasolini, Fassbinder). A propósito da queda do regime comunista nos países de Leste, em 1992, voltou a Heiner Müller de quem fez nova encenação de A Missão e Mauser. Fez a estreia mundial de dois textos: O Colar de Sophia de Mello Breyner Andresen em 2002 e A Cadeira de Edward Bond em 2005. Elaborou vários espectáculos a partir textos não teatrais: a Primavera Negra de Raul Brandão; Diálogos sobre a Pintura na Cidade de Roma de Francisco de Holanda; o poema A Margem da Alegria de Ruy Belo. Convidou encenadores estrangeiros como Stephan Stroux, Christine Laurent, Brigitte Jaques e produziu e/ou co-produziu espectáculos de jovens encenadores (Miguel Guilherme, José Meireles, António Pires, José Wallenstein, Ricardo Aibéo) e um espectáculo de novíssimos actores (O Dia de Marte). A partir de 1974, o Teatro da Cornucópia tem vindo a ser regularmente subsidiado pelo Estado e tem recebido apoios pontuais da Fundação Gulbenkian e de várias entidades como o Instituto Alemão, o British Council, a Embaixada de Espanha, a Embaixada da Suécia, a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o Instituto Camões, o Inatel, a Câmara Municipal de Lisboa, etc. Desde 1975 que a companhia trabalha no Teatro do Bairro Alto, antigo Centro de Amadores de Ballet, espaço que, por intervenção de João de Freitas Branco, lhe foi cedido pela Secretaria de Estado da Cultura. Em 1986/7, o edifício sofreu obras de melhoramento, o que o tornou num espaço privilegiado para todo o género de espectáculos. Este local de trabalho tem permitido à companhia uma permanente experimentação de espaços cénicos, uma inversão da relação tradicional do palco com a plateia, o que dificulta, por outro lado, a adaptação dos seus cenários a outros palcos. Apesar disso, o Teatro da Cornucópia não tem deixado de fazer digressões a outras cidades do país e tem apresentado regularmente os seus espectáculos fora de Lisboa. (…) Tem estabelecido, nos últimos anos, co-produções com o Teatro Nacional S. João, Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Nacional S. Carlos, Culturporto/Rivoli Teatro Municipal, e Teatro Municipal de Almada e São Luiz Teatro Municipal. Por várias vezes se integrou no Festival de Almada. Para além da apresentação normal dos seus espectáculos, o Teatro da Cornucópia procura dinamizar o seu espaço com outras actividades. A companhia tem acolhido nas suas instalações espectáculos de outros grupos e tem realizado inúmeras actividades paralelas (apresentação de livros, conferências, uma semana dedicada à criança, cursos de técnica básica para actores, colóquios, exposições, leituras de textos, etc.). Para cada espectáculo a companhia publica um volume de textos-de-apoio com uma antologia desenvolvida de textos que podem completar a compreensão de cada encenação.

In http://www.teatro-cornucopia.pt/htmls/conteudos/EEuEZkAZlEzmnDiOEf.shtml




© Manuel Fontão

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