2007/12/23

O NATAL DE QUE TODOS FALAM

O Natal de que se fala acontece em Dezembro.
Eu só conheço o Natal frio do mês em que calha.
Aliás, ninguém procura o Natal fora do seu tempo,
Fora da neve do dia vinte e cinco,
Fora da sua fogosa calha.

Eu amo o Natal marcado a talhe de foice no calendário.
Eu amo o Natal incerto dos felinos sob fólios de zinco.
Eu amo o Natal que não se esquece que não se empalha
Na festa farta da noite do dia vinte e quatro
Ao toque-toque do credo
À luz coada da cruz
Disfarçada de estrela-cadente

Eu que até gostava outrora do Dezembro sombrio e grave
A convidar o homem e o seu riso a banhos no rio Letes...
Mas quê! Puseram lá o Natal.
Tinham de lá pôr o Natal.

Acho o Dezembro triste.
Detesto o Dezembro triste como ele é hoje.
Detesto o Dezembro porque é triste como o Natal.
Se lá não estivesse o Natal o Dezembro não seria triste.
Nem melancólico.
Nem amargo.

Velho símbolo nu, supérfluo, amoral:
Desce já do pesado lenho!
Está frio – e precisamos de madeira tanta…
Não percebes?
Quero que o Natal se consuma antes da Terça a gorda
Ou depois da semana cristã mente santa.

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